Uma visão técnica da cicatrização
- Cleisson Niz
- 27 de jan.
- 4 min de leitura
A cicatrização de uma tatuagem é um processo complexo que ocorre em várias fases. Entender o que acontece em cada etapa pode ajudar a garantir que sua tatuagem cure corretamente e se mantenha com uma bela aparência por muitos anos.
Fase Inicial:
Quando a tatuagem é feita, a pele é perfurada repetidamente, causando pequenas lesões e iniciando os processos de hemostasia e inflamatório. Os vasos sanguíneos no local se dilatam para permitir que o sangue flua mais facilmente para a área afetada. Isso resulta em vermelhidão e calor.
Células do sistema imunológico liberam substâncias químicas chamadas mediadores inflamatórios. Esses mediadores causam a dilatação dos vasos sanguíneos e aumentam a permeabilidade das paredes dos vasos, permitindo que fluidos, proteínas e células do sistema imunológico saiam do sangue e entrem nos tecidos.
O inchaço (edema) na região é causado pelo acúmulo de fluidos e células no tecido lesado. Este fluido contém proteínas, como o fibrinogênio, que ajudam na formação de uma rede de suporte para a cicatrização.
Os leucócitos (glóbulos brancos), como neutrófilos e macrófagos, são recrutados para a área da lesão. Os neutrófilos ajudam a eliminar bactérias e detritos celulares, enquanto os macrófagos removem células mortas (falaremos mais deles adiante) e participam da secreção de fatores de crescimento que ajudam na reparação do tecido.
Fase Inflamatória:
A fase inflamatória pode durar de 3 a 7 dias. Nesse período, o sistema imunológico trabalha para limpar a lesão (tattoo) e preparar o tecido para a próxima fase de cicatrização. É também nesse momento que pode ocorrer a expulsão do excesso de pigmento da sua tatuagem.
Fase Proliferativa:
Durante a fase proliferativa da cicatrização da tatuagem, que ocorre geralmente entre 4 e 21 dias após a aplicação, o foco está na construção de novo tecido e na recuperação da pele. O novo tecido de granulação começa a se formar na área da tatuagem. Esse tecido é composto por uma nova rede de vasos sanguíneos e células fibroblásticas. Os novos vasos sanguíneos se formam para fornecer nutrientes e oxigênio ao tecido em cicatrização. Esses vasos sanguíneos ajudam na recuperação, mas o pigmento da tatuagem continua fixo na derme, sem se mover para fora da área onde foi depositado, embora possa parecer um pouco borrado devido ao fluido e ao inchaço ainda presentes. A camada superior da pele, chamada epiderme, pode parecer escamosa ou seca, o que é um sinal normal de cicatrização.
Fase Maturação:
2-6 Semanas Após a Tatuagem
Nesta fase, a cicatriz da tatuagem está se consolidando e o tecido está amadurecendo. A cor da tatuagem pode parecer um pouco opaca ou desbotada, mas isso é um aspecto normal do processo de cicatrização. A pele está se ajustando ao novo padrão de coloração e a tinta está se estabilizando na derme.
A fase de maturação da cicatrização, também conhecida como fase de remodelamento, ocorre após a fase proliferativa e pode durar vários meses a anos. Durante essa fase, o foco está na organização e fortalecimento do novo tecido cicatricial.
O colágeno produzido na fase proliferativa é reorganizado para formar uma estrutura mais robusta e alinhada. O colágeno tipo III, que é inicialmente produzido, é gradualmente substituído pelo colágeno tipo I, que é mais forte e mais durável. O novo tecido cicatricial ganha força e elasticidade à medida que o colágeno é reorganizado e a estrutura da pele se estabiliza.
Qualquer vermelhidão ou inchaço residual na área da cicatriz geralmente diminui, e a cor da cicatriz pode se igualar mais ao tom da pele ao longo do tempo.
Macrófagos e o Processo de Envelhecimento da Tatuagem
Macrófagos, que são células especializadas em eliminar partículas estranhas, são atraídos para o local da tatuagem. Eles fagocitam (engolem) as partículas de pigmento, tratando-as como corpos estranhos.
Uma vez que os macrófagos engolem o pigmento, eles o armazenam dentro de compartimentos celulares chamados fagossomos. Como muitos pigmentos de tatuagem são grandes e complexos demais para serem completamente degradados, o pigmento tende a permanecer dentro dos macrófagos na derme.
Os macrófagos, como qualquer célula, têm uma vida útil limitada. Eles eventualmente morrem por apoptose (morte celular programada) ou são removidos pelo sistema imunológico. Quando um macrófago morre, outros macrófagos ou células do sistema imunológico podem engolir os restos do macrófago, incluindo o pigmento. Isso pode levar a uma redistribuição do pigmento, fazendo com que ele se expanda levemente nesse pequeno intervalo.
O sistema imunológico continua a tentar limpar o pigmento ao longo dos anos. A degradação e a migração dos macrófagos podem resultar em uma perda gradual de pigmento, fazendo com que os traços se expandam e desbotem ao passar dos anos. Mesmo que o pigmento não seja completamente removido, a dispersão e a degradação podem fazer com que a tatuagem pareça menos vívida e nítida.
A pele envelhece e muda ao longo da vida, o que pode afetar a aparência da tatuagem. A perda de colágeno e elastina pode fazer com que a tatuagem se estique ou se deforme, alterando sua clareza e definição. Alguns fatores que podem influenciar o envelhecimento da pele incluem:
A exposição prolongada aos raios ultravioleta (UV) do sol danifica o DNA das células da pele e acelera a degradação do colágeno e da elastina, levando ao envelhecimento precoce da pele, rugas e manchas solares.
A desidratação pode causar a perda de elasticidade e firmeza da pele, uma vez que a água é essencial para a saúde da pele.
Uma dieta pobre em nutrientes e hábitos de vida pouco saudáveis, como consumo excessivo de álcool, falta de sono e falta de atividade física, podem afetar negativamente a circulação sanguínea, reduzindo a capacidade da pele de se regenerar e produzir colágeno.
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